Iterações: qual o tamanho?

Antes de falar de iterações, vou falar um pouco de escopo e começar com um dado publicado pela Standish Group que diz respeito ao uso das funcionalidades em softwares. Apenas 20% das funcionalidades são utilizadas com frequência, sendo que 80% foram poucas ou nenhuma vez utilizadas1.

A pergunta aqui é: por que isso acontece?

Não só em software, mas em diversos projetos, percebemos que entregamos coisas desnecessárias para o cliente, itens que agregam tão pouco valor que se não estivessem ali, ninguém sentiria falta.


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A definição do escopo na abordagem tradicional é feita no início do projeto, e procura-se esgotar o processo. Muitos stakeholders, classificados em uma longa planilha, são ouvidos. As expectativas são levantadas e muitos imaginam que fazendo uma boa definição de escopo o projeto será um sucesso.

Porém na prática isto é um pouco diferente, ou seja, o mapa não é o território2. O quanto antes você encarar a sua realidade melhor. Por isso, no início do projeto, determinar o tamanho das suas iterações pode ser crucial para o sucesso de todo projeto. Pense sempre em primeiro lugar no retorno sobre o investimento do cliente e em segundo, na mitigação dos riscos.

Abraçar cegamente o plano e só ter contato com o cliente no final do projeto certamente é uma estratégia ultrapassada por vários motivos, e como exemplo posso citar os dois principais: só entregar o produto no final e ainda correr o risco de entregar um produto obsoleto.

As iterações mais curtas permitem a equipe do projeto obter feedback mais cedo e consequentemente revisões periódicas com os clientes. Isso irá permitir, primeiro saber se estamos indo para o lugar certo e em segundo se estamos de fato atendendo às necessidades de nossos clientes. A abordagem tradicional atrasa esse tipo de vantagem, até quase sempre, serem irreversíveis. E mais fácil mudar no início onde os custos são mais baratos.

Uma outra vantagem de se ter iterações curtas e adaptadas a realidade do seu projeto é aumentar o foco da equipe. Na abordagem tradicional, faz-se um esforço imenso para se definir é documentar todo o escopo do projeto. Produz-se uma extensa documentação, muitas vezes em processos alucinatórios. Já participei de times que tentavam planejar prazos 5, 6 anos depois da data atual. Acredite 5 ou 6 anos do momento presente em que estamos. Sem dúvida um exercício de futurologia.

Tentar definir todo o escopo antes de se quer iniciar o projeto é um erro. Precisamos levar em consideração no mínimo a premissa que o mundo dos negócios está em constante transformação, muda-se muito rápido. Os cenários que temos hoje, certamente não serão os mesmos que teremos daqui a 5 anos. As necessidades poderão ser outras, mas nós ainda esperamos que os planos não mudem, ou que mudem pouco.

Por isso, empenhe-se nas duas ou três primeiras iterações a estabelecer um período adequado para as iterações restantes. Lembre-se de seguir com o período estabelecido até o final do projeto. Uma boa dica é reservar um tempo para o não planejando e ir ajustando esse tempo com o time. A tendência é que este tempo diminua com a evolução do projeto e com a maturidade do time.

1. Para saber mais sobre este dado leia o post publicado pelo Mike Cohn em https://www.mountaingoatsoftware.com/blog/are-64-of-features-really-rarely-or-never-used

2. O Mapa não é o território é um dos 5 principais pressupostos da Programação Neurolinguística. O Mapa que no caso é o nosso plano de projetos dificilmente corresponderá ao campo em que vamos executar nosso projeto. O cenário é incerto. Contém riscos, cultura organizacional, mudanças tardias e outras causas que podem tirar o projeto do trilho. Para Robert Dilts os melhores mapas são aqueles que nos oferecem mais escolhas.

Sobre o autor

Rodrigo Zambon
Sólida experiência em Metodologias Ágeis e Engenharia de Software, com mais de 15 anos atuando como professor de Scrum e Kanban. No Governo do Estado do Espírito Santo, gerenciou uma variedade de projetos, tanto na área de TI, como em outros setores. Sou cientista de dados formado pela USP e atualmente estou profundamente envolvido na área de dados, desempenhando o papel de DPO (Data Protection Officer) no Governo.
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