Aplicações práticas na estrutura de um Planejamento Estratégico – Parte I

Recentemente iniciei mais um trabalho para a elaboração do planejamento estratégico em uma organização pública. A teoria que ensinamos em sala de aula nem sempre está de acordo com a realidade que encontramos nas organizações. Na prática existe um gap, que só vamos aprender fazendo. Nesse ponto muitos alunos me perguntam como começar, como reunir e organizar a informação necessária para um trabalho de planejamento.

Em um trabalho de planejamento estratégico a coleta de dados já estruturados e as informações que estão contidas nas pessoas são fundamentais para entendermos o contexto, a situação atual e fazermos um ponte ao futuro de onde queremos chegar. Existem várias formas de se coletar dados estruturados, já compilados. Vamos organizar e extrair as informações úteis para auxiliar no trabalho. O desafio está em coletar os dados que estão com as pessoas, extrair essa informação, que na maioria dos casos é mais valiosa, leva tempo e dedicação.

Damos o nome a essa primeira etapa de reuniões de diagnóstico. Aqui estamos buscando pela estrutura, descobrindo o terreno. São reuniões de sensemaking para gerar conhecimento e constatar que o mapa não é o território. O que eu vou detalhar nesta série de artigos é a ferramenta que utilizo para conduzir essas reuniões. Eu explico brevemente em sala sobre a PNL e o Metamodelo de Linguagem, mas nem sempre conseguimos esgotar o assunto. A necessidade dos artigos surgiu do interesse dos alunos, em conhecer mais sobre o tema.


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O objetivo dessa série de artigos é apresentar as origens do Metamodelo de Linguagem e as bases que o fundaram, contidas na Gramática Transformacional de Noam Chomsky. A ideia inicial de Richard Bandler e John Grinder, criadores a PNL, era desenvolver um instrumental teórico para auxiliar psicólogos e terapeutas em sua difícil missão de ajudar pessoas a solucionarem seus traumas e limitações.

Está fora do meu escopo detalhar Programação Neurolinguística e Sensemaking, entretanto sem conhecermos as origens, não vamos conseguir dar significado ao que estamos fazendo. Vamos então a uma breve descrição, a alguns conceitos sobre as duas disciplinas e então teremos mais detalhes sobre o Metamodelo de Linguagem. Antes de mais nada, quero deixar claro que não concordo com tudo na PNL, aliais não concordo com quase nada, entretanto o Metamodelo de Linguagem tem sido útil nas conversas e no garimpo de informações importantes em relação as organizações.

Programação Neurolinguística

No início da década de 70 as transformações e o imediatismo começavam a ganhar força. A demanda por mudanças mais rápidas, principalmente nas questões de educação e aprendizado acelerado surgiram nessa época. O aprendizado de idiomas, técnicas de memorização, mapas mentais e neste contexto o método da modelagem, que mais tarde vem a ser chamado de Programação Neurolinguística.

A Programação Neurolinguística começou a ser estruturada no início da década de 70 por dois americanos trabalhando em conjunto. Richard Bandler  estudante de psicologia – e John Grinder professor assistente de linguística, ambos da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

Bandler e Grinder modelaram, ou seja, pesquisaram e descobriram padrões de pessoas que desempenhavam com excelência a tarefa de ajudar pessoas, e puderam a partir disso disseminar este conhecimento. Eles inicialmente modelaram as formas e métodos de trabalho de Fritz Perls (Gestalt Terapia), Milton Ericksson (Hipnoterapeuta) e Vírginia Satir (Terapeuta Familiar). Com base nas observações e padrões na fala, deu-se origem o Metamodelo de Linguagem.

O objeto de trabalho de metamodelo é o modelo de mundo empobrecido que comunicamos em um primeiro momento. Idealizado a partir dos conceitos dos níveis de linguagem proposto com Noam Chomsky na Gramática Transformacional, o Metamodelo visa expor a estrutura profunda por meio de perguntas e desafios.

A PNL atribui a responsabilidade da fala ao emissor e afirma que nenhum mapa de mundo é igual ao outro. Uma mesma experiência é interpretada e reproduzida de forma diferente por cada ser humano. A partir disso, ela conclui que o ato de falar omite, generaliza e distorce os fatos e aprendizado. O processo de criação do nosso modelo de mundo não reproduz a realidade em si, criamos de acordo com as nossas particularidades.

Definir PNL não é uma tarefa das mais simples. O livro A Estrutura da Magia: um livro sobre linguagem e terapia (1975) que deu origem ao Metamodelo e que posteriormente vem a ser englobado pela Programação Neurolinguística não tem uma definição clara. No livro eles apenas detalham o conceito de modelagem:

Um instrumental específico de modo que se possa começar ou continuar o interminável processo de melhorar, enriquecer e ampliar as habilidades que oferece como aquele que auxilia pessoas.

No livro Usando sua mente: as coisas que você não sabe que não sabe (1987) escrito somente por Richard Bandler, ele diz que:

A PNL simboliza entre outras coisas uma maneira de se examinar o aprendizado humano. Acho mais apropriado descrevê-la como sendo um processo educacional. Estamos, essencialmente desenvolvendo formas de ensinar as pessoas a usarem seu cérebro.

Ao trazermos os comportamentos indesejados para o nível consciente, podemos definir ações para intervir e modificar.

Pressupostos

A PNL é sustentada por pressupostos. No livro Manual da Programação Neurolinguística: um guia prático para alcançar os resultados que você quer (2003) escrito por Joseph O´Connor ele estabelece 13 pressupostos:

  1. As pessoas respondem a sua experiência, não a realidade em si
  2. Ter uma escolha ou opção é melhor do que não ter uma escolha ou opção
  3. As pessoas fazem a melhor escolha que podemo no momento
  4. As pessoas funcionam perfeitamente
  5. Todas as ações têm um propósito
  6. Todo comportamento possui intenção positiva
  7. A mente inconsciente contrabalança a consciente; ela não é maliciosa
  8. O significado da comunicação não é simplesmente aquilo que você pretende, mas também a resposta que obtém
  9. Já temos todos os recursos de que necessitamos ou então podemos criá-los
  10. Mente e corpo formam um sistema. São expressões diferentes da mesma pessoa.
  11. Processamos todas as informações através de nossos sentidos
  12. Modelar desempenho bem-sucedido leva a excelência
  13. Se quiser compreender, aja

De uma forma mais detalhada, no livro A Estratégia da Genialidade (1998), escrito por Robert Dilts (pra mim um dos melhores livros sobre o tema), os pressupostos aparecem da seguinte forma:

  1. a) O mapa não é o território
  2. b) A vida e a “mente” são processos sistêmicos

O Mapa não é o território

As pessoas reagem às suas próprias percepções de realidade. Cada um tem seu mapa de mundo sendo que nenhum deles é mais “verdadeiro” ou “real” do que qualquer outro. Os mapas mais sábios são aqueles que vão permitir um número mais amplo de escolhas, ao contrário de tentar impor o seu próprio mapa ou suas convicções.

Mesma coisa acontece nas organizações quando nos deparamos com algum tipo de problema. Quanto mais opções temos para solucionar os problemas que aparecem, melhor. Formar profissionais tipo T também ajuda na diversificação das soluções. Quanto mais complexo for o seu ambiente, mais ideias você precisará ter e nada melhor do que a colaboração e a diversidade para ter ideias.

Neste caso fazemos as melhores escolhas disponíveis no momento, mas estamos limitados a quão amplo é o nosso modelo. As mudanças ocorrem a partir dos recursos adequados ou da ativação do recursos potencial para um contexto específico.

A vida e a “mente” são processos sistêmicos

Os processos que ocorrem dentro da pessoa, ou entre pessoas e ou seu ambiente são sistêmicos. Estamos inseridos em sistemas que se influenciam mutuamente. Não é possível isolar completamente uma parte do sistema. As interações entre elas formam ciclos contínuos de feedback de tal forma que a pessoa será afetada pelos resultados que as próprias ações tem nas outras pessoas.

Os sistemas são auto-organizados e naturalmente procuram estados de equilíbrio e estabilidade. Não existem falhas, apenas feddback. Os ambientes e contexto mudem. Nem sempre a mesma ação produzirá o mesmo resultado. Isso é importante porque a interpretação é de cada um. Não reagimos a realidade em si, o que obtemos é a interpretação a partir do nosso modelo de mundo. Para se adaptar e sobreviver de maneira bem sucedida, precisamos de flexibilidade. À medida que o sistema se torna mais complexo, mais flexibilidade precisamos.

Richard Bandler diz que a PNL é uma forma de criar novas maneiras de entender como a comunicação verbal e não verbal afetam o cérebro humano. Desta forma ela se apresenta como uma oportunidade invulgar, não só de comunicarmo-nos melhor com nós mesmos e com os outros, mas também, de aprender como obter maior controle sobre o que nós consideramos funções automáticas da nossa própria neurologia.

Nos próximos artigos vamos detalhar Sensemaking e o Metamodelo de Linguagem.

Sobre o autor

Rodrigo Zambon
Sólida experiência em Metodologias Ágeis e Engenharia de Software, com mais de 15 anos atuando como professor de Scrum e Kanban. No Governo do Estado do Espírito Santo, gerenciou uma variedade de projetos, tanto na área de TI, como em outros setores. Sou cientista de dados formado pela USP e atualmente estou profundamente envolvido na área de dados, desempenhando o papel de DPO (Data Protection Officer) no Governo.
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